Às vezes sou o que invento Às vezes sou o que não quero ser Às vezes sou poeira que aparece com o tempo Às vezes sou a pedra onde topas sem querer Ainda estou somente só Ainda ando com meus passos inseguros Ainda me encolho quando sinto dor Ainda choro quando tenho medo do escuro Sou uma bailarina que não dança nem nada Sou uma menina que ainda não cresceu Sou quem passa muitas noites acordada Sou quem acorda quando o sol já se perdeu
Mora um anjo com o coração de poeta Lá na casa de número trinta Uma casa meio amarela, perto da esquina Naquele quarto com três janelas.
Ele vem de um outro século Mas disso pouca gente sabe E não é nem questão de segredo É que quase ninguém entende isso de verdade
Faz dos dias e noites um recital constante Um monólogo de cada uma de suas faces Uma novela, um conto, um romance
Faz graça das desgraças da vida Não perde a linha Não perde a rima
O poeta...
Guarda em si, dó e sol Suas cores, sabores, suas dores e amores Colhe uma flor dividida em três partes Guarda lá, mi ré e fá numa caixa de duas metades
De quando em vez anda no meio da sociedade Transpassando por bares e esquinas, Por calçadas e avenidas Sempre admirando as luzes da cidade
É aquele que vai além de uma era Que às vezes passa despercebido, nem sempre bem compreendido Que não deixa de ser poeta Que não deixa de ser amigo.