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Quem sou eu

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Às vezes sou o que invento Às vezes sou o que não quero ser Às vezes sou poeira que aparece com o tempo Às vezes sou a pedra onde topas sem querer Ainda estou somente só Ainda ando com meus passos inseguros Ainda me encolho quando sinto dor Ainda choro quando tenho medo do escuro Sou uma bailarina que não dança nem nada Sou uma menina que ainda não cresceu Sou quem passa muitas noites acordada Sou quem acorda quando o sol já se perdeu

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quinta-feira, abril 26, 2012

La valentine.

Se fosse contar as vezes que fora engolida por seus pensamentos, já poderia se chamar de  banquete. Monstros. De dragões a macacos gigantes, de serpentes a trolls. Vindos de terras frias, quentes, ensolaradas e aquelas onde mal se via a luz do dia. Quantos pensamentos para controlar. Se fossem mesmo monstros, o que faria? Tentaria dominá-los ou os deixaria livres? Sempre fora a favor da liberdade dos seres, sempre quis terras boas para que pudesse alimentar e cuidar dos seus próprios sentimentos, mas vez por outra as pestes apareciam. Pensamentos desgovernados, procurando sentimentos para alimentar a besta mortal que se escondia nas cavernas altas da perdição, do desejo e do ser. Monstros inquietos em si. Procurando sentimentos por toda parte. Roubando o afeto de quem passasse despreocupado e mutilando até os mais fortes. Mas o que essa besta queria, afinal? Seria ela assim tão terrível? Por que tanta fome? Quando se saciaria? Quando cessaria? E os guerreiros? Onde estavam? Há muito não se via guerreiros por essas terras. Já não lembravam da força, dos nomes e nem mesmo dos rostos. Mas de que adianta, não é mesmo? Talvez os monstros não sejam monstros. Talvez sejam apenas criaturas que querem um novo abrigo. Seres indefesos que atacam para se proteger. Seres inteligentes, que se fecham para compreender melhor. Quem sabe?

Bem aventurados os que desistiram das terras altas.
Bem aventurados os que evitam suas pestes.
Bem aventurados os poucos que por lá habitam.



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quarta-feira, setembro 14, 2011

Singular


"Se a obra do acaso acabou na quase linda história de amor. Vou guardar lembranças do que não viveremos. Tão bom enquanto não durou... Tanta perfeição." (Quase linda história de amor - Jay Vaquer)

Estávamos ali. Nós dois. No plural. Um completando o outro. Completando frases e até as orações que não fizemos. Mas estávamos ali. Eu e você.
Eu custando a acreditar nos meus olhos e você tentando me mostrar a verdade. Me olhando mais uma vez e dizendo baixinho no meu ouvido:
“Não precisa ter medo. Eu estou aqui, então vai ficar tudo bem agora”.

E então eu acordei.




Foto de Valéria Dantas.
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terça-feira, agosto 09, 2011

Três pedaços de Alice




Ancorei a dor
Não por querer
Mas sorri mesmo depois da surra
E me cortei por dentro quando te vi sorrindo
Mostrando seus dentes tão perfeitos
Tão lindos

Me cortei por dentro
Porque você não sorriu pra mim.

Ancorei a saudade
Não por querer
Eu só não tive escolha...
Parei pra ver o mar
Parei pra te ver correndo livre
Me sentei na beira da praia
Me apoiei na bóia, mesmo estando em terra firme

A saudade não precisa de água para matar
Vai afogando aos poucos com lembranças.

Ancorei o amor
Por querer
Mas o amor nunca afunda
Afunda apenas quem ama sozinho
Aos poucos
Lentamente

E então o amor me encarou e me disse baixinho:
"Estou aqui pra te lembrar do que é bom
e pra dizer que nem mesmo eu estou livre da dor da saudade.
Nem mesmo um pouquinho."

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Foto de palomamush.

quarta-feira, julho 13, 2011

As cartas de ninguém.


"Não, não é o fim. Dure o tempo que você gostar de mim. Entre o 'não' e o 'sim' só me deixe quando o lado bom for menor do que o ruim." (Nunca - A banda mais bonita da cidade)


Te escrevi cartas sim. Te escrevi em olhares, abraços e até nas grosserias que você nunca soube diferenciar se eram de brincadeira ou não. Na maioria das vezes eram brincadeiras. As grosserias de verdade eu guardei para o final, mas você já não estava mais olhando. Passei tanto tempo ensaiando umas frases de efeito pra você que meu espelho acabou quebrando. E assim que ele quebrou, imaginei que pudesse ter sido você. Então não te disse mais nada. Nem as besteiras de antes. Nem os elogios de outro dia. Fiquei com tanto medo de te quebrar que fiquei apenas parada, calada, atordoada demais pra pensar em pedir desculpas. Mas já te pedi desculpas em pensamento.
De você não tenho ouvido nem mais uma palavra, nem uma reclamação engraçada, nem mais um segredo, nem mais uma idiotice daquelas que me faziam rir tanto. Não tenho ouvido mais nada. Nem você chorando. O que é bom, já que agora você parece estar feliz. Mas mesmo distante, eu sei que você ainda esconde o choro. Eu sei porque um dia te conheci. Talvez hoje eu já não saiba mais de nada, mas ainda lembro de anteontem.
A questão é que decidi escrever, mesmo sem endereçar o destinatário. Escrevi porque minha cabeça já estava cheia de tantos pensamentos - acredite ou não, escrever faz metade deles se calarem. Eu nem disse tudo o que queria, também não sei se saberia. Tem sido tempos tão difíceis pra mim. Tempos tão estranhos quanto eu. Você sabe que eu sempre fui estranha, você só descobriu um lado meu que eu escondia e esqueceu de lembrar que um dia eu já fui esquisita. Me desculpe por isso também.
Só quero que saiba que eu não te esqueci, mesmo parecendo que sim. Mas se você me conhecesse mais um pouquinho saberia disso e de muitas outras coisas também. Não vou me prolongar mais. Então fico por aqui. Sentada no sofá assistindo um filme com a saudade de companhia.

Até a vista.

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domingo, julho 03, 2011

Mi maior.


"Não importa o que aconteça agora. Eu não vou ter medo." (Videotape - Radiohead)

Se amo, me machuco. Me machuco e canso de amar. Não deixo de amar mesmo estando machucada, mas tomo cuidados para que ninguém pise nas minhas feridas.
Cuido sozinha de mim e de alguns outros que por acaso se machucam no caminho. Aprendi a olhar por mim quando ninguém estivesse fazendo o mesmo. Aprendi assim: a base de socos, carinhos, decepções, amor e muito choro também. Não posso baixar a guarda, pois guardo mágoas, dores e amores que já nem amo mais. Amo apenas a lembrança. Acho que mantenho guardado pelo passado, pela história. Talvez não seja saudável, mas tenho continuado assim.
Pretendo me mudar. Quero dar umas voltas pelo mundo; quero descobrir tudo o que já sei e não lembro; quero rever o que não vi; e esperar que alguma mudança me ocorra. Se a mudança demorar, vou me sentar num banco de praça e reajustar as idéias que me restam. Vou pensar na vida e esperar a hora certa de ser e estar. E se eu me machucar de novo... Vou tentar me curar enquanto eu ainda tiver força, um caderno, uma caneta e um violão.

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domingo, junho 26, 2011

Fim de festa


"E a conta da saudade quem é que paga? Já que estamos brigados de nada. Já que estamos fincados em dor. Lembra o que valeu a pena." (Reticências - O teatro mágico)


Não foi por querer
Nem por vaidade
Não foi por tristeza
Nem por alegria

Mantive a dúvida
Perdi a coragem

No fim das contas o amor saiu caro pra mim
E quem veio apenas dizer "Boa noite"
Decidiu ficar até o fim da festa
Pois não tinha tanta pressa
Disse que esperaria mesmo assim

Perdi a calma
Mantive o choro

Foi a saudade que me acompanhou
Até eu perder a noção do tempo
Perdi foi a noção do perigo
Perdi foi o meu senso.

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segunda-feira, junho 13, 2011

Tell me why.



"Então... eu não mereço nada mais do que tenho, porque nada do que eu tenho é verdadeiramente meu" (Life for rent - Dido) ♪♫♪

Dos dias que passaram, lembro do muito que quero esquecer. Esqueço, às vezes, do que quis lembrar por mais tempo. E fito o nada. Exijo respostas. Crio mais perguntas. Fico bem assim mesmo... Distraída, calada, distante do mundo que sempre quis manter tão perto. Quis mais. Quis de tudo. Quis, principalmente, o que já não podia mais ter. Me julguei dona do que nunca foi realmente meu. E me enfureci, perdi a pose, caí no choro quando vi tudo aquilo me dizendo “adeus”. Um adeus tão triste que não pude fazer nada além de chorar mais e perguntar “por quê?”. Fico bem assim mesmo...

É bem mais triste aos Domingos.

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domingo, maio 22, 2011

Artista desconhecido


Mora um anjo com o coração de poeta
Lá na casa de número trinta
Uma casa meio amarela, perto da esquina
Naquele quarto com três janelas.

Ele vem de um outro século
Mas disso pouca gente sabe
E não é nem questão de segredo
É que quase ninguém entende isso de verdade

Faz dos dias e noites um recital constante
Um monólogo de cada uma de suas faces
Uma novela, um conto, um romance

Faz graça das desgraças da vida
Não perde a linha
Não perde a rima

O poeta...

Guarda em si, dó e sol
Suas cores, sabores, suas dores e amores
Colhe uma flor dividida em três partes
Guarda lá, mi ré e fá numa caixa de duas metades

De quando em vez anda no meio da sociedade
Transpassando por bares e esquinas,
Por calçadas e avenidas
Sempre admirando as luzes da cidade

É aquele que vai além de uma era
Que às vezes passa despercebido, nem sempre bem compreendido
Que não deixa de ser poeta
Que não deixa de ser amigo.

Assim é o meu artista desconhecido.



Por: Vanessa Dantas

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sexta-feira, março 18, 2011

A rima do outro verão

“E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?” (O fabuloso destino de Amélie Poulain)

Do outro lado da rua
Do outro lado da tela
Uma pintura, um gnomo de jardim
Uma janela.

Meu mundo realçado em verde e vermelho
Meus pequenos prazeres escondidos entre os grãos
Um estranho fantasiado de esqueleto
O amor encontrado no outro lado da estação

Um pequeno gesto revela toda a sua grandeza
Como os mistérios que se escondem nos detalhes
A chuva que cai, derrama toda a sua beleza
E revela o amor expresso na troca dos olhares.

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segunda-feira, fevereiro 28, 2011

A falta que a falta faz.


"Olhe nos seus olhos uma chama que se apaga, olhe para o vento em seus cabelos amarelos e finja que vê o homem que não está lá" (The man who isn't there - Oren Lavie) ♫♪♫

Na falta de um abraço, encontrei reforços nos meus lençóis.
Na falta de uma voz, dei ouvidos aos músicos desconhecidos.
Na falta de uma idéia, evitei os papéis e o violão.
Na falta de um amor, mantive meus sentimentos escondidos.

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